quinta-feira, maio 17, 2007



para ti

ATÉ AO FIM

Mas é assim o poema: construído devagar,
palavra a palavra, e mesmo verso a verso,
até ao fim. O que não sei é
como acabá-lo; ou, até, se
o poema quer acabar. Então, peço-te ajuda:
puxo o teu corpo
para o meio dele, deito-o na cama
da estrofe, dispo-o de frases
e de adjectivos até te ver,
tu,
o mais nu dos pronomes. Ficamos
assim. Para trás, palavras e versos,
e tudo o que
não é preciso dizer:
eu e tu, chamando o amor
para que o poema acabe.

PRINCÍPIOS

Podíamos saber um pouco mais
da morte. Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.

Podíamos saber um pouco mais
da vida. Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.

Podíamos saber um pouco mais
do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.


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Nuno Júdice, in “Pedro, Lembrando Inês”, ERD. Dom Quixote, 2001
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14 comentários:

manhã disse...

sabemos muito pouco, mas aquilo que sabemos deve ter serventia, como uma enchada, deve revoltar a terra.

Maria Eduarda Colares disse...

ai bandida, bandida, se não fosses uma romântica, o que é que gostavas de ser????

ps: o Chagall é lindo de morrer e o poeminha aussi

intruso disse...

(nada sabemos...)

(o que podemos saber...?)

(...)


bjs

Bandida disse...

ai M, como tu me entendes...

:))))))

Lauro António disse...

A uma mulher amada

Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.

Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.

Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.
Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala... eu quase morro... eu tremo.

Safo
Trad. Décio Pignatari

Minha querida Bandida: depois daquela bela dedicatória, que reconhecido agradeço, só algo de completamente diferente. Com um beijo...

eu disse...

Um belo poema (de certezas e dúvidas ?).
O cantor canta bem mas não me embala, a fumar na cama, não me leva lá.


D. Galinha

as velas ardem ate ao fim disse...

Sabemos tão puco sobre tudo e nada.

Bjos B

Isabel Victor disse...

Joan Manuel Serrat

Que bom ...

_____________

obrigada :)

________

quanto ao AMOR ... que viva nesse engano de alma, ledo e cego ...
que viva ...

* i

Gi disse...

Hoje tudo me toca mais do que o habitual . Estou irracional. Como o amor é. Beijos Bandida

A. disse...

...e um arrepio.




doce__________________________...
_________________________
___________________
______________
__________e obrigada.vi.li.e
amanhâ.o meu para ti B.





...que bom!
:)

Ana Paula Sena disse...

Nada sabemos, realmente...
:)

isabel mendes ferreira disse...

Lauríssimamente apropósito.


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beijo. cantante.

merdinhas disse...

Bandida ataca de novo...

Anónimo disse...

querida bandida, já ontem tinha liso este belo poema de júdice e se não comentei antes foi porque o blogger não deixou. servem estas palavras para lhe agradecer mais uma vez as boas escolhas que nos oferece. adoro este em particular.