quinta-feira, março 26, 2009




o bandida vai fazer uma pausa. divirtam-se.

segunda-feira, março 23, 2009





a fantasia é o ponto possível da realidade e um poeta não se perde por vender impossíveis.
morde-se pela carne adentro e finge-se a sabedoria do esterco na pocilga dos impróprios. vómitos decompostos em areia seca.

são horas de fechar o amor a sete chaves e tirar da gaveta a tesoura do grito. são horas de fugir das palavras. deixá-las a secar no inferno da memória e prostituir a mentira.
amarmo-nos uns aos outros.

amai-vos uns aos outros. dizia o outro que não sabia nada de resultados.
o suicídio da sede transpira pálidas línguas desprevenidamente naturais.
são horas de arrancar o amor do tempo e atirá-lo para a estratosfera do absurdo e queimá-lo vivo enquanto há esperança. enquanto há alguma tragédia na lágrima.
são horas de trair a música e enchê-la de bocas e de perfis e de linhas e de pesadelos, foda-se. de pesadelos que me insultam a inteligência e me rebentam a pele do estômago. são horas, foda-se. são horas. são horas. são horas de tranquilizar o medo e dizer eu quero. mesmo que não seja eu o que o amor fizer do silêncio. eu quero, foda-se.
e a caneta rasga a tinta da minha mão. e a folha rebenta a inutilidade de eu querer qualquer coisa com alma e com memória e com frio. EU QUERO ENREGELAR DE MEDO.


não. não quero saber do soco no sonho. só quero inventar perfis e insultar o universo.


eu sou um ponto na regra dos deuses.
eu sou o aspecto na diagonal do gesto.
eu sou a desolação a sufocar de comédias.
eu sou a arte nua a inventar o enredo.

é trágico nascer com marcas na língua.

[ o lábio inferior projecta a obra. perfeita fraqueza a da boca.]








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sábado, março 21, 2009







Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam

e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício


(…) Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor


E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o
amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar.



Mário Cesariny






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quinta-feira, março 19, 2009




amanhã, 20 de Março 2009, às 18.30h, na
Livraria Bertrand do Centro Comercial Picoas Plaza, Rua Tomás Ribeiro, 65, em Lisboa.

apareçam!


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quarta-feira, março 18, 2009





When people had secrets they didn't want to share
they'd climb a mountain, they'd find a tree
and carve a hole on it and whisper the secret into the hole
they cover it with mud
that nobody else
would ever discover it

...

segunda-feira, março 09, 2009






há cem anos quatro patas eram mais do que duas.
há cem anos que durmo. há cem anos que acabo a fúria do dia a lamber cem gelados das cem pedras acidentais.
há cem anos mudos. e os cem pés dos poetas a tiritar de frio.
e as cem formigas de há cem anos não são as mesmas dos cem anos de agora.
há cem anos que a minha cabeça cai. há cem anos que morro. há cem anos que apago e acendo o fogo. há cem anos que corro. há cem anos que morro. há cem anos de logro.
há cem anos que há esta merda de jogo.















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sábado, março 07, 2009




encosto-me à gaveta do meio e deixo o rio perfurar-me o peito.
é preciso matar o amor com as grutas da noite. ferir mortalmente as entradas dos prédios e acordar de manhã em cima do escadote do desejo.
o amor evolui de acordo com o tango. não evolui, escalda.
se evoluísse era um sexo. e não é. é um tango.

mantém este lado para cima.
frágil.






sexta-feira, março 06, 2009

Palavra de Mulher






A Papiro Editora promove no próximo dia 6 de Março pelas 21h30m, no âmbito do Dia Internacional da Mulher, uma tertúlia intitulada Palavra de Mulher, que reune cinco autoras no auditório da Biblioteca Orlando Ribeiro, em Lisboa.
Inserido nas comemorações do Dia Mundial da Mulher, este evento pretende discutir e apreender o papel das autoras mulheres na cultura portuguesa, mas também o lugar destas na sociedade portuguesa nos dias de hoje, através das palavras escritas e de tudo o que se pretende dizer, com intervenção do público em geral mas também de alguns convidados em particular.
Presentes estarão Maria Quintans , Teresa Salvado, Joana Branco, Otília Martel e Cristina Nobre Soares,... Autoras respectivamente de Apoplexia da Ideia, Das Minhas Águas Furtadas, Café, Canela e Coração, Menina Marota e Gineceu.





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