sexta-feira, outubro 17, 2008
































Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.




António Ramos Rosa,
Facilidade do Ar, 1990




14 comentários:

vendaval disse...

já no princípio era o verbo. sempre o vero. o princípio e o fim. o parto e o sepúlcro.
o que esperas talvez não seja «uma palavra» mas «A palavra». Porque finges ignorar que ela cresce dentro de ti?

pront'habitar disse...

havia hoje, salvo erro, um lançamento...

não fui...

Mar Arável disse...

Ramos Rosa

sempre

musqueteira disse...

... bom dia bandida!... há lobos na serra. javalis e passaros de todas as cores. tudo é verde e ocre:sem palavras. aberto ao mundo tal como ele é.pensado em silêncio.
bjs

musqueteira disse...

... bom dia bandida!há lobos na serra. javalis. passaros de todas as cores. tudo é verde e ocre. pensado em silêncio.

observatory disse...

a.r.r...

palavra peneirada

limpinha...

secreta chave

que te abre.

haja quem o saiba.


bjº bnddº

isabel mendes ferreira disse...

"ontem " a felicidade estava no Teu ar_____________no teu "nariz"___________na tua face de menina re.encantada.


.

Sim.

Um dos DOS......que da palavra fez cal e aço doce.


sim.

________________:beijo-te.

Manuel Veiga disse...

Ramos Rosa - "entre o vento e o olvido". belo...

beijos

maria josé quintela disse...

um dos poemas do antónio ramos rosa que mais gosto!

St. J. disse...

É bem verdade.
Quase em desespero.
Por uma palavra aguardada.

De longe.
Longe. Longe.




Bijufazinha Ban

audrey disse...

a beleza

serena das palavras


brancas, como caminhos de neve
ou de névoa

por entre as árvores

dos caminhos,
dos nossos caminhos...

Haddock disse...

tanta melancolia, a dos poetas...

jorge vicente disse...

abriste.me

a tua palavra na minha.

obrigado, querido antónio ramos rosa

A. disse...

...é de uma infinita tristeza não se saber agarrar a voz da esperança...e desesperar, como quem mendiga, sentado nas escadas de uma casa qualquer, pela esmola daqueles que seguem, de livre vontade, o caminho da vida deles.



...haja saúde e sopa, minha B.

*