
é capaz de ser dia o silêncio que encanta o canto de uma serenidade imprópria. exaustivamente quente. não sei se o que digo é absolutamente suspeito ou se a íntegra qualidade das águas, separadas pelas canas, são sapos, reflexos de riachos incandescentes, ali onde se planta a árvore e se colhe a batata.
há um clima interrogatório de infortúnio. há um clima de calma. um qualquer som em vez de corda. somos de uma absoluta inutilidade. acrescentamos mais inutilidade quando pensamos que pensar é já por si tão inútil como escrever em mouleskins, como se a página em branco nos desenhasse o caminho. somos da capaz impotência de dizer que sim ou não só porque sim. quando nem nas tabernas onde se inventam segredos, o silêncio se mascara de vício. sabemos do vício? saberemos dos tempestuosos martírios que amargam a boca? amargam na boca uma qualquer tempestade de incrédulos portentos de sede? definitivamente não sabemos nada do que se rasga em casa. nas janelas somos uma espécie de formiga inquieta a levantar sons na poeira dos desencantos.
desencantaste-me. desencontraste-me. desligaste-me a corda na orla do silêncio.
esperava-te em contemplação de martírio reduzido a vício quando as marés partiam a meio das noites. esperava-te quando os pássaros deixavam os ninhos afastados e fosse de silêncio a coragem de abrir rachas fundas nos lábios. em vez de língua uma silhueta de pestanas embranquecidas de espera. um acaso moribundo. faltou-nos um segundo. o segundo num tempo em que as marés vivas transformam as ondas em sacrifícios de morte. os cordeiros do sonho desmanchados, abertos, desventrados como se fossem bestas à procura de caminhos encantados. e de mãos, dedos, segredos em forma de portas, em jeito de música.
como se a tua forma fosse água, mágoa. instantes de formas indiscretas e pesadelos verdes.
serão azuis os teus olhos?
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