terça-feira, dezembro 05, 2006
T. de Horta
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À noite implorar-te-ei: "Vem, minha rosa da Índia..." -, paixão da minha paixão, que a ti te aperfeiçoa e a mim me derruba; me empurra na demanda de tudo por tudo querer demasiado: "Nunca me abandones!"- rogo-te em seguida, na certeza de estar a acontecer o contrário; fingindo submeter-me, dar-me, para melhor litigar, procurar o poço do teu fundo, à descoberta das tuas catacumbas e cisternas, dos teus escombros, das tuas fundações e caves escuras. Sem impedir a sofreguidão que impele a dureza vingativa que me incita a armar-te ciladas, a usar armadilhas para te aprisionar, minha raposa prateada, meu lobo desalmado.
Minha caça.
Tu deslumbras-me e metes-me medo pelo imenso poder que manténs sobre mim, abrigando-me e apartando-me, recolhendo-me e largando-me, com uma futilidade caprichosa, cruenta, amando-me para me negares. No esquecimento de como a minha antiga natureza geniosa me leva à rebeldia e à desobediência, à ruptura, na pressa de desprender-me, de libertar-me, a ganhar terreno para melhor me esquivar, desatar os nós corredios que deste na minha sorte, mapa de traições e clausura. A iludir a avidez pela tua magreza, pela tua palidez sombria, pela tua doçura de madressilva, pelo bistre das tuas olheiras, do cansaço que ao apaziguar-te afinal te cede às escarpas íngremes da minha cobiça, que acaba por te tornar objecto único da turva tentação do meu anseio.
Neste delírio, nesta alucinação, nesta desordem, neste rancor acrescido. A apropriar-me de ti através da morte, por não poder ser através da vida, enquanto te amordaço, te ato, amarro a nudez do corpo que lavo e aliso, embalo e acaricio.
Exigente.
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Maria Teresa Horta - Uriel
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9 comentários:
Curiosa a forma como nos identificamos com determinados textos que lemos...
:o)
Suicidem-se os poetas!
Que as palavras andam soltas!
Suicidem-se os poetas!
Para renascer a fonte que jorra!
Suicidem-se os poetas!
Para que se ouça, finalmente, o mar!
Suicidem-se os poetas!
Para que descansem os pássaros e as flores!
Suicidem-se os poetas!
Porque só no suicídio se anuncia de novo a vida...
Fiquei a conhecer a Maria, rapariga vivaça e predadora. Aprendi a gostar...
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"meu lobo desalmado.
Minha caça".
Forte... como se dá tanta força a im texto!
Pois ser exigente por vezes não é mau mas sim um a forma de viver...
um abraço
Ela disse...sem papas na língua!
Abandonei um pouco a sua escrita. Está talvez na hora de reler.
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outros tempos.
. e de novo a T.
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uma T. em excelente forma...poética!
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boa noite.
MTH e o seu fabuloso "Azul-Cobalto"
CSd
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