segunda-feira, março 24, 2008
é capaz de ser dia o silêncio que encanta o canto de uma serenidade imprópria. exaustivamente quente. não sei se o que digo é absolutamente suspeito ou se a íntegra qualidade das águas, separadas pelas canas, são sapos, reflexos de riachos incandescentes, ali onde se planta a árvore e se colhe a batata.
há um clima interrogatório de infortúnio. há um clima de calma. um qualquer som em vez de corda. somos de uma absoluta inutilidade. acrescentamos mais inutilidade quando pensamos que pensar é já por si tão inútil como escrever em mouleskins, como se a página em branco nos desenhasse o caminho. somos da capaz impotência de dizer que sim ou não só porque sim. quando nem nas tabernas onde se inventam segredos, o silêncio se mascara de vício. sabemos do vício? saberemos dos tempestuosos martírios que amargam a boca? amargam na boca uma qualquer tempestade de incrédulos portentos de sede? definitivamente não sabemos nada do que se rasga em casa. nas janelas somos uma espécie de formiga inquieta a levantar sons na poeira dos desencantos.
desencantaste-me. desencontraste-me. desligaste-me a corda na orla do silêncio.
esperava-te em contemplação de martírio reduzido a vício quando as marés partiam a meio das noites. esperava-te quando os pássaros deixavam os ninhos afastados e fosse de silêncio a coragem de abrir rachas fundas nos lábios. em vez de língua uma silhueta de pestanas embranquecidas de espera. um acaso moribundo. faltou-nos um segundo. o segundo num tempo em que as marés vivas transformam as ondas em sacrifícios de morte. os cordeiros do sonho desmanchados, abertos, desventrados como se fossem bestas à procura de caminhos encantados. e de mãos, dedos, segredos em forma de portas, em jeito de música.
como se a tua forma fosse água, mágoa. instantes de formas indiscretas e pesadelos verdes.
serão azuis os teus olhos?
.
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22 comentários:
a loucura das palavras nas palavras da loucura e a suave melodia da surdez.
;) posso dizer excelente? quem sou eu, porém, para o dizer? nos olhos azuis do silêncio, ou no silêncio azul dos olhos? não sei. hoje é capaz de ser o dia b. anunciemos pois aos mundo. dia 24 de março é o dia b. de belíssimo. e de beijo*
a que desígnio confessional convocas os fiéis deste teu altar, bandida!!
a estação é propícia a esta via crucis, mas, et pour cause, convida ao êxodo... tipo, "fugidêmos!!"
somos todos (menos os tolos - bem aventurados, que deles é o reino...) prisioneiros deste cativeiro existencial, surreal (?).
há que conspirar a fuga, contra tudo e contra todos!
e dizer como disse um tal profeta ao carcereiro "mas se recusares deixá-lo ir, eis que ferirei com rãs todos os teus termos"!!!
http://br.youtube.com/watch?v=AGJh1HgqNoM
E sempre as palavras soltas. caleidoscópicas. como olhos de um louco.***
***«Le fou est celui qui a tout perdu sauf la raison»
"é capaz..."
...
na orla do silêncio
(e do cansaço)
um beijo
*
O TEXTO É MAGNIFICO
MERECIA UM COMENTÁRIO RASGADO
digo tão só
que merece a cor dos teus olhos
Beijo! Depois falamos.
... sem Alma não há cidades perfeitas nem Mundo sem fim!
são azuis os meus olhos? são da cor da cinza, de pastel, da terra pesada e verde que pisamos
quando alimentamos
o verso e a pele
um beijo
jorge
um belo postal, como todos os que por cá vejo (quando por cá passo, o que nem sempre acontece, a corrente onde navego anda com muitos remoinhos).
xiiiiiiii!
a estética da ira!
perfeito! assaz, aliás!
hommages ou condoléances?
se o Eco t'apanhava a imagem, publicava na 'história do feio' (difel)...
«Tangidas pela brisa de depois da tempestade ou pela razão posterior à cegueira vêm uma bruta ressaca nas vagas da consciência, a espinha envergada pelo chumbo do juízo e a angústia ante a impossibilidade de se devolver à boca do passado, de onde jamais deveriam haver saído, palavras que vomitadas ao vento ganharam anatomia mortal de adaga feita do aço da desconfiança, cuja lâmina enfeita pepitas de orgulho.
Terrível abrir as vistas no fim da crise, com a coluna frequentada por calafrios e o refluxo arrastando sucos gástricos até a porta da garganta. Dá vontade de chorar e de sair dos trapos da vergonha, despindo a fantasia macabra, suja e falsa, desse sentimento que não se confessa mentira, embora falseie a verdade, e nem se declara doidice, mesmo afetando o bom-senso.
"Meu Senhor, livrai-me desse monstro de olhos verdes, que escarnece do próprio pasto que o alimenta. Quão felizardo é o enganado que, cônscio de o ser, não ama a sua infiel!
Mas que torturas infernais padece o homem que amando, duvida, e suspeitando, adora."»
CidAugusto
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...beijos mil.minha querida B.
*
:) vinha cheia de boas e ilustres intenções de fazer.te o discurso prometido..:) mas cheguei tarde...o Paulo Neto adiantou-se-me. Com pouco disse tudo.
o que havia a dizer.
assim sendo deixo um abraço...daqueles que sabes...onde o espaço é só breve caminhar "sobre a morte em Veneza" e descobrir-te uma concha negra. que te será mar. e memória.
beijos bandidos. na cumplicidade do discurso que se compadece com a loucura alheia e ressalva a bendita loucura tua.
__________________________.
Há sempre muito de triste mas também de libertado no desencanto...
Que post denso!
beijo
água e da + pura são as tuas palavras.
os olhos talvez se tenham tornado transparentes
os olhos são azuis. certamente. penetrantes como lâminas...
soberbo texto. sangrante...
Às vezes, apetece dar um grande grito descabelado! :) E excomungar "um clima interrogatório de infortúnio"!
Adorei toda esta tua veia!
Beijo com vénia a uma artista! :):)
Loucura (...)
Agur
Leia-se «libertador» onde se lê «libertado».
Adenda...
vim reler o texto e acho que ainda gostei mais do que da primeira vez ;) tem de me explicar qual é o segredo, querida bandida. bom fim de semana e um beijinho grande *
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