segunda-feira, março 23, 2009
a fantasia é o ponto possível da realidade e um poeta não se perde por vender impossíveis.
morde-se pela carne adentro e finge-se a sabedoria do esterco na pocilga dos impróprios. vómitos decompostos em areia seca.
são horas de fechar o amor a sete chaves e tirar da gaveta a tesoura do grito. são horas de fugir das palavras. deixá-las a secar no inferno da memória e prostituir a mentira.
amarmo-nos uns aos outros.
amai-vos uns aos outros. dizia o outro que não sabia nada de resultados.
o suicídio da sede transpira pálidas línguas desprevenidamente naturais.
são horas de arrancar o amor do tempo e atirá-lo para a estratosfera do absurdo e queimá-lo vivo enquanto há esperança. enquanto há alguma tragédia na lágrima.
são horas de trair a música e enchê-la de bocas e de perfis e de linhas e de pesadelos, foda-se. de pesadelos que me insultam a inteligência e me rebentam a pele do estômago. são horas, foda-se. são horas. são horas. são horas de tranquilizar o medo e dizer eu quero. mesmo que não seja eu o que o amor fizer do silêncio. eu quero, foda-se.
e a caneta rasga a tinta da minha mão. e a folha rebenta a inutilidade de eu querer qualquer coisa com alma e com memória e com frio. EU QUERO ENREGELAR DE MEDO.
não. não quero saber do soco no sonho. só quero inventar perfis e insultar o universo.
eu sou um ponto na regra dos deuses.
eu sou o aspecto na diagonal do gesto.
eu sou a desolação a sufocar de comédias.
eu sou a arte nua a inventar o enredo.
é trágico nascer com marcas na língua.
[ o lábio inferior projecta a obra. perfeita fraqueza a da boca.]
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
22 comentários:
ser poeta é ser mais alto!è ser maior do que os homens!
um bjo B
é para copiar para papel
para reler onde e quando me apetecer.
beijo
Muito forte, tia Bandida,
para um menino pequenino como eu !
Chuac!
Fascinante, a vida ( o teu texto também, claro!)
Não deixa de ser curioso ler isto, agora que cheguei de uma viagem ao amor. Agora que me apetece exaltar o amor com as palavras mais simples e as mais óbvias. Exaltar e isaltar e ezaltar e izaltar - que se foda a ortografia, que também tem direito a ser fodida. É curioso ler isto, agora, que transbordo desse amor simples que rima com flor e assim. tipo. topas? Agora que cheguei num comboio em que por todo o lado tocavam violinos e voavam borboletas.
Agora, que cheguei de um fim de semana em que fui magistralmente fodida...
É... a vida é fodida e eu gosto :-)bj
of
... de novo me fazes chorar...
'perfeita a fraqueza da boca...'
(...)
pois é...
*
(não comento)
recuso-me!
Texto para como diz a Angela ________ler!
em papel.
sem vernáculos fáceis.
perfeita a tua franqueza.
(in.comum nestes dias de amar o tempo com palavras de dentro)
não comento.
mas tb sublinho o João Concha. que te sublinha...:)
beijo PIN.
De regresso como gostei de encontrar estas palavras.
"eu sou um ponto na regra dos deuses.
eu sou o aspecto na diagonal do gesto.
eu sou a desolação a sufocar de comédias.
eu sou a arte nua a inventar o enredo."
destaco estas para não destacar todo o poema. Para não me esquecer de que
"a fantasia é o ponto possível da realidade e um poeta não se perde por vender impossíveis."
Obrigada. Um beijo.
obrigou-me a parar, maria. e como parei no meio da avenida perplexa a olhar para este quadro no prédio mais alto da cidade, passou-me um camião por cima. eu quero enregelar se este poema não ficar na antologia mais nobre. e é favor atropelar-me mais vezes, que é assim que eu gosto de morrer... um grande abraço. muito dentro.
linderrima,
MANIFESTO.... tu es q'até dá gosto.
da-lhe com fora
q a vida merece.
beijo
ps eu ainda no meio da folharia. nem para chas há tempo :)
Tudo é tão frágil
menos o cristal
que rasga
com qualidade
a fraqueza da boca
e as palavras inventadas
BJS
o motim que causaste em nossas úlceras, bandida!!
ficaram completamente sideradas com tal distinção poética!!
elas, que já se tinham resignado com a cicatrização, voltaram a rebentar encarnadas de emoção!!
e nós com isso (??), perguntamos.
boticário de serviço, que remédio...
cada vez mais
as tuas palavras,
o teu verbo ...
a tua poesia...............
arranham mais...
negro/vermelho para não variares...
um beijo grande..
loa
do intento
oblíquo.
foda-se.
que portento de mulher.
É hora.
Há muito que é hora.
Digo o poema intenso, duro, real e que já não é de ti. Digo-o e sei que calarei ao dizê-lo, enquanto me rasgo por dentro, por senti-lo.
É hora.
Sempre será esta hora.
Abraço grande e perto.
levantaste a crosta à foste a ferida. sem dúvida.
(a mim doeu-me. admito.)
conforto-me no prazer de ler:
"eu sou um ponto na regra dos deuses(...)
eu sou a arte nua a inventar o enredo".
beijo
um poema-leão. a isto, maria, chamo eu poesia, com letras maiúscula. e lembro do que disseste, assim do nada, a passar como uma seta no vento, «toda a poesia deve ser revolucionária». é preciso dizer e fazer. ei-la. :D
beijos à mistura com cubos de saudades. [*]
(estás bem?...)
Beijo............
Queria dizer-te que fiz o que tinha dito: fiz copy/paste do poema e imprimi-o. só quero que saibas que não vou fazer qualquer uso dele a não ser para saciar o meu prazer de o ler e reler:)
boa pausa e volta com mais:)
beijo
já sinto saudades tuas!
um bjo
Muito bom descobrir teus textos...
Beijos
Enviar um comentário