quarta-feira, outubro 31, 2007








nada é diferente se a boca não morde no ramo o caule da folha. e será a criatura selvagem arejada de vento e de névoa. a garganta em sangue do princípio da vida. nas asas das fadas. no ventre das deusas. já vi. no cimento crescem as madrugadas antes noites apetecidas. não viste elefantes. não olhaste o silêncio dos corvos na diferença do grito. não viste a cor da noite a espreguiçar-se na lua. não imaginaste o fundo dos olhos ensanguentados de vermelhos vivos. não viste o silêncio a esculpir nuvens. descompassado. negro. cinzento escuro a escapar-se dos lagos acesos na ponta dos dedos. na febre da língua. no segredo do grito. não ousaste sequer estremecer de fúria quando a porta se fechou por dentro e a chave se escondeu subitamente debaixo do tapete do medo. não ficaste. não te despediste e achaste que sim. que basta acenar uma mão cheia de dedos para ir embora. e de repente a selva transformou-se em mar e as nuvens cresceram para dentro de um hino envelhecido em madeiras de jangadas mal presas na corda. o náufrago mastiga. mastiga a carne. num corpo meio vivo. ainda assim em estertor de morte apalavrada. náufragos são os lobos na despedida do dia. e nada mais se assemelha ao seu olhar à espera do resto. que vai e vem num não sei quê de angústias. a doer fundo. a acrescentar palavras ao que já é demais acrescentado. e não há nada a dizer quando não se disse nada. não há nada a fazer quando não se fez nada. não há nada. absolutamente nada.







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sexta-feira, outubro 26, 2007






é deveras interessante fazermos de interessantes interessados nas coisas muito interessantes de que falam as pessoas importantes. perdão, interessantes.
é deveras importante fazermos de interessantes as coisas importantes. perdão, interessantes.
é deveras interessante. importante. não dizer nada.


aeroporto de lisboa 29 de julho de 2007.

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segunda-feira, outubro 22, 2007
















desenhas o silêncio na margem do corpo
como se a pele tivesse margem
não há voz que adiante a palavra

não há sonho que adiante
a penumbra


não há silêncio que adiante
o corpo

não há som

apenas isso



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sábado, outubro 20, 2007






sorvo-te o pulso

a pulsar na língua

na lua




quarta-feira, outubro 17, 2007









piazzolla. astor. liberdade no som do
tango. que o tango seja astor de pi que não é mais que
azzolla em verso de canto. que canta na margem do tango.
no abraço em forma de areia a escorrer nos olhos a tenda
do sangue a sacudir vertigens. não há pi sem azzolla.
não há tango. não há azul. não há pi. não há som.
não há ondas. o mar está calmo e os corais adormecem no fundo da cor.
e acontecem as mais profundas luzes de antecipar encontros
entre os dedos e o sol.
pi de tango.



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sexta-feira, outubro 12, 2007



fósforos no imediato dos dedos.

até que se feche o peito.


nada mais do que a música deste sakamoto meu.
















quarta-feira, outubro 10, 2007

suspendo o cordão da distância breve no vício das estradas.

sabe-me a ti o cigarro. sabe-me a mel de abelha esbaforida de flor em flor. na procura da cor. na disparatada procura do fundo do mar. mais azul que a taça de mel.
acrescento uma abelha no cigarro e cresce uma cigarra no sexo do poeta. vagina do medo. funda. afundada na estreita liberdade da música.
a abelha na asa do som. o pólen cresce em cascata na segurança das margens a delinearem o segredo.




não há momento sem angústia. comem-se as angústias. mastigam-se os segredos. inventam-se os instantes de dentro.
ácido. ácidos. acidez do mel. a apedrejar palavras.
bebe-se da abelha o cordão da língua a saber a ventres cansados .

e tu dizias : são os pássaros!
- não, não, é o fogo!






domingo, outubro 07, 2007




nenhuma outra forma é possível
para materializar a sede.



nenhuma outra forma é possível para
materializar a sede.



nenhuma outra forma é possível para materializar
a sede.


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sábado, outubro 06, 2007







é definitivamente um áspero sufoco.
a vida?
a cor.
sabemos da perícia da arte em tons de azuis.

o cigarro nos lábios ao canto do sorriso.
e o espanto dos dedos no fulgor do abraço. em tom de afago. em assombro de vinho.

não sei nada. absolutamente nada de música.


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