deixa-me descansar por aí. embrulhada nas palavras.
que de fumo se transtorne o conhecimento do corpo. que se queimem as asas dos anjos e se descubram os holofotes do sonho. por dentro dos dedos. por dentro dos olhos. por dentro de mim. que se assombrem as camas desfeitas de desejo. que se limpem as bocas no lençol do tédio. que me causem impressão as almas e os romances e a súbita sôfrega desilusão. que me fechem a porta da vontade. que a filosofia é uma treta. que me ardam as polpas dos dedos na futilidade da descoberta. que me sigam os caminhos. que me encharquem os olhos de galos a cantar ao relento. que me digam que não. e que sim. que me matem de doença incurável. ócio de dramas mentais. sensações de luz forte. que me digam que não. que me fujam as sombras dos meus medos. que me lixem. que se lixem. que me engasguem. que me julguem altruísta de causas mortas. que me encurtem a palavra.
que me deixem descansar por aí num embrulho de palavras.
são corpos em delírios de nuvem. são ventres em desejos de nomes. são bocas em forma de sussurro. são sexos em permanente música. são dentes em apetecida marca. são pulsos em apertadas cordas. são dedos em repetidos gritos.
"No fundo o que é um maluco? É qualquer coisa de diferente, um marginal, uma pessoa que não produz imediatamente. Há muitas formas de a sociedade lidar com estes marginais. Ou é engoli-los, transformá-los em artistas, em profetas, em arautos de uma nova civilização, ou então vomitá-los em hospitais psiquiátricos."
- Deixei a tinta pela parede. Importas-te? - Não. Nem sequer vi. - Tem qualquer coisa de místico, não achas? - Talvez. Parece que é azul. - Qualquer dia pinto um dedo de cada cor e depois invento o arco-íris. - Já o inventaram. - Ainda não o vi... - Eu sou o arco-íris! - Pensei que eras a Lua...